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“Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento.” — Desiderius Erasmus






Hoje, se me questionassem que desperdicei parte de minha vida confinado em quatro paredes ao invés de aproveitá-la de qualquer outra forma — uma vez que estive sustentando dois hábitos: jogar e ler —, decerto responderia que o maior pecado da vida não é a propensão a hábitos solitários, mas a incapacidade de enxergar além de uma barreira mental.
É claro que a vida não se resume somente a jogos e livros, e seria um misantropo se considerasse o contrário. A questão é que para cada pessoa existe uma categoria de prioridades inerentes ao bem-estar, sejam elas quais forem.
Pois é, eu sei que já estou fugindo um pouquinho do conteúdo habitual do site, mas a pergunta que estou ouvindo agora é: “Cara, onde diabos entram os jogos antigos aqui?”. Afinal, disso não dá para fugir aqui — e nem quero —; mas dentro do universo tangível pensei em arriscar uma analogia humilde, ao menos com base na minha própria experiência com essas coisas. Em que medida videogames e livros se complementam ou se correspondem? Qual sua importância em nossas vidas como forma sábia de escapismo?



“Quem tem bastante no seu interior, pouco precisa de fora.” — Goethe





Sendo um garoto criado em um apartamento em uma “cidadezinha” como São Paulo, posso dizer que não tive muitas oportunidades de atividades ao céu aberto. Então já imaginam: brincadeiras como jogar futebol, empinar pipa e andar de bicicleta não faziam parte do meu dia-a-dia. Por outro lado, fui criado em um ambiente rico em cultura e atividades em um espaço bem limitado fisicamente. Digamos que leitura e jogos (fossem de mesa ou videogames) estavam entre minhas principais distrações quando criança.
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Com a morte do meu pai seguida de problemas financeiros, tive que me mudar para uma cidade do interior, mas esses hábitos continuaram a me acompanhar com veemência. Claro que no começo tive muitos problemas para me adaptar, principalmente enfrentando a disparidade do mundo de crianças que foram criadas em ambientes fisicamente mais liberais do que o meu, não sendo raro sofrer preconceito e ser excluído do convívio social com outras crianças. A forma de compensar era chegar em casa e fugir para mundos imaginários, onde eu podia ser o personagem que eu quisesse, no mundo que eu quisesse.

Em pouco tempo, tive a sorte de conhecer um dos caras mais legais que passaram pela minha vida; ele me apresentou ao famigerado RPG de Mesa, e nem preciso dizer que foi uma das descobertas mais fantásticas da minha juventude. Até esse momento, o mais próximo que havia chegado de fantasias do gênero tinha sido quando li uma adaptação de O Rei Arthur e Os Cavaleiros da Távola Redonda e HQs do Conan, ou em jogos como Phantasy Star e The Legend of Zelda. Ah sim, juntamente ele me introduziu ao gênero musical refinado que tanto amo: o Heavy Metal — afinal, ser RPGista e headbanger era tão obrigatório quanto queijo e bacon. Além de morar em um dos lugares mais nobres da cidade, a casa desse meu jovem amigo afoturnado era um paraíso nerd, do qual tive acesso a um acervo de discos (sim, discos, MP3 ainda engatinhava) e HQs de dar inveja a qualquer adolescente da época. Bom, eu não tinha dinheiro mesmo, e vamos dizer que ele era tipo aquele amigo rico e legal o bastante para te emprestar tudo o que você não podia ter.
Aaahh memórias… Quantas partidas intermináveis de AD&D com meu bárbaro sósia do Conan, quantas brigas de taverna e aventuras por calabouços repletos de armadilhas, monstros e tesouros, e às vezes até rolavam umas donzelas gostosonas. Nessa época entrei de cabeça nesses mundos fantásticos, e quando não estava jogando RPG de Mesa, estava jogando Magic(que no meu caso foi só uma febre rápida), assistindo filmes ou lendo. Sair de casa? Só se fosse para pegar jogos de SNES e PS1 — já que era a única coisa que eu pegava mesmo, se é que me entendem. Enfim, já deu para perceber que tentar fugir da realidade era a minha principal ocupação na juventude.
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Resumo da minha adolescência

Minha mãe e provavelmente as pessoas que me conheceram não me achavam um jovem muito dentro dos padrões. Foram muitas as almas que tentaram me mudar ao longo dessa vida, mas querem saber se me arrependo de algo? Pelo contrário, tenho muitas memórias boas dessa época. Viajei mais do que muitos imaginam, me aventurei por terras mais distantes e quiméricas do que muitos sequer conseguiram criar em suas mentes. Ora, eu era apenas um jovem taciturno.
Com a idade, as responsabilidades e a experiência de morar sozinho, naturalmente fui deixando de lado as atividades mais sociais (as poucas que eu tinha); e logo os livros evideogames viraram companheiros mais frequentes. Mas a maturidade funciona de uma forma curiosa em algumas pessoas, e no meu caso, conforme os anos passavam a balança que pesava para o lado dos videogames foi pendendo para o lado dos livros. Hoje posso dizer que enquanto as páginas da vida andam cada vez mais escassas, as de papel são cada vez mais abundantes. Seria uma profanação ou uma metáfora muito ruim?



“A imaginação muitas vezes conduz-nos a mundos a que nunca fomos, mas sem ela não iremos a nenhum lugar.” — Carl Sagan





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Os videogames entraram em nossas vidas com a simples função de proporcionarem diversão rápida e descomprometida. Com o tempo, foram abandonando a casualidade de simples passatempos e alcançando a maturidade de criar histórias fantásticas, tramas complexas e personagens marcantes. Mas o que seriam desses elementos se não fossem pelos mundos criados por sonhadores e visionários que passaram por esse mundo? Mentes formidáveis que deixaram palavras para inspirar e libertar gerações, criando mundos imaginários e situações extraordinárias, e muitas vezes fazendo uma analogia com a própria natureza da humanidade. Os videogames devem muito aos livros; eles podem complementá-los, mas jamais vão substituí-los.
Se arriscarmos uma correspondência, provavelmente muitos jogos antigos (ou com cara de antigos) são análogos no que dizem respeito a alguns estímulos alcançáveis somente pela leitura. O motivo principal é simples: gráficos limitados obrigam-nos a exercitar a imaginação e a criatividade de modo muito mais intenso do que jogos que cospem gráficos mirabolantes, prontinhos para serem degustados sem o menor esforço. Não obstante, com outros ingredientes como uma história bem bolada, uma narrativa cativante e personagens fortes, ainda temos a receita para uma aventura de alta qualidade, mas a harmonia desses elementos com a simplicidade visual pode ser muito mais aditiva. Claro, isso não é uma regra, e muitos jogos não precisam necessariamente dessa fórmula para serem divertidos; mas você conseguiria imaginar um RPG decente na mesma situação? Um jogo com substância é um jogo que alcançou a maturidade.



“Não há melhor fragata que um livro para nos levar a terras distantes.”— Emily Dickinson





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Não podemos esquecer que os primeiros jogos que ousaram a sair da simples diversão casual para focarem em propostas mais sérias surgiram nosPCs. Poderíamos traçar uma linha desde jogos como Zork, ou seja, simples aventuras em texto sobre uma tela preta, e já temos uma base para entender as possibilidades dos jogos eletrônicos em simular experiências de imaginação parecidas com os livros. De gráficos nulos esses jogos evoluíram para expoentes como King’s Quest,Maniac MansionSnatcherMonkey Island,Myst e tantos outros. Em outras frentes os micros atacaram com jogos influentes em temática e jogabilidade, é só pegarmos exemplos como UltimaAlone in the DarkFalloutElder Scrolls e Half-Life, e temos uma pequena amostra não só de excelentes jogos, mas jogos com histórias envolventes.
Os consoles demoraram um pouquinho mais para atingir a maturidade dos computadores, mas logo conseguiram não só alcançá-los, como em muitos casos superá-los. Delinear um antagonismo entre essas máquinas era tarefa fácil quando os jogadores de cada lado tinham diferenças gritantes, mas hoje isso é quase inexistente. Vários jogos tiveram papel fundamental nessa revolução: The Legend of Zelda e Ys levaram jogadores para mundos inexplorados de pura aventura e fantasia, enquanto Dragon Quest e Final Fantasy uniram o romance e a técnica com esmero. Metroid e Castlevania foram de jogos que dependiam somente da mecânica e apostaram em tramas mais complexas. Resident Evil e Silent Hill provaram que jogos de horror podiam ser tão bons e assustadores quanto seus ancestrais de PCs. No final da frutífera década de 90, Metal Gear Solid e Shenmue levaram os jogos de consoles a novos patamares cinematográficos.
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Partindo de tantas inspirações, muitas mentes puderam ver suas ideias ganhando vida, e com tantas criações fantásticas que pudemos testemunhar, tivemos argumentos suficientes para rebater as velhas críticas em torno dosvideogames. Ainda assim, muitos esqueceram ou desprezaram um fato: de que os videogames devem ser aliados dos livros. A demanda crescente pelo apelo sensorial tem a sua parte da culpa, porém há outras variáveis em jogo. O fato é que as pessoas leem cada vez menos livros, mas sempre há um antídoto para este veneno.



“Um único sonho é mais poderoso do que mil realidades.” — J. R. R. Tolkien





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Você sabia que a história de The Legend of Zelda foi criada graças à paixão de Takashi Tezuka por O Senhor do Anéis? E aliás, se não pela fosse pela imensa capacidade imaginativa e fantástica de J. R. R. Tolkien, o que seriam dos RPGs? De suas obras tivemos Dungeons & Dragons e então UltimaWizardry e suas proles. Jogos de terror e suspense são realmente difíceis de imaginar sem a inspiração das obras assustadoras de Edgar Allan PoeH. P. LovecraftBram Stoker (se considerarmos Castlevania) e outros mestres do horror. Se não fosse pelo clássico de ficção científica Duna de Frank Herbert — que também inspirou Star Wars — talvez não teríamos Dune II, o pai do estilo de estratégia em tempo real que conhecemos hoje, como os populares WarcraftCommand & Conquer e StarCraft. O venerado Half-Life teve várias de suas ideias tiradas do conto O Nevoeiro de Stephen King, e aliás, não tem como negar que Half-Life 2 foi fundo no visionário 1984 de George Orwell. Mundos distópicos e temáticas cyberpunks que foram mostrados em precursores comoSnatcherShadowrun e System Shock não seriam possíveis sem as influências de Philip K. Dick e William Gibson, respectivamente, com livros como Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? (que gerou Blade Runner) e Neuromancer (que gerou Matrix). Ufa… dava para escrever um artigo só sobre isso, mas já deu para passar um pouco das influências que oslivros tiveram na história dos videogames.
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Ainda hoje, os livros continuam exercendo forte influência nos jogos. Alguns exemplos modernos de sucesso como as séries Tom ClancyHaloBioShockThe Witcher eAssassin’s Creed foram inspirações e adaptações de grandes sucessos da literatura. Muitos deles tiveram até livros publicados inspirados nos jogos; ou seja, livros que viraram jogosque viraram livros — acreditem, isso já é mais comum do que imaginam. A literatura transforma e é transformada, suas possiblidades são imensuráveis.



“Falta de tempo é desculpa daqueles que perdem tempo por falta de métodos.” — Albert Einstein





Você tem vontade de ler mas está sem tempo? Olha o que o cara aí em cima disse, hein. Acho improvável que alguém passe tanto tempo ocupado que não possa parar 10 minutos por dia para isso. Se aquela horinha de relaxar é sagrada para jogar um pouco de videogame, sem problemas, é só reservar alguns minutos dela para ler. Garanto que é um esforço que vale a pena, e os benefícios são muitos. Com o tempo, aqueles minutos podem tranformar-se em horas de leitura.
Para muita gente, não é uma tarefa fácil fugir da barreira mental que nos impomos diariamente; isso pode ser causado por muitas coisas: comodismo, desânimo e o uso tão comum de subterfúgios são as principais. São coisas que vão surgindo aos poucos, têm caráter tímido e vão agindo lentamente, assim vamos sempre empurrando-as como se não fossem nocivas, e quando nos damos conta já estamos completamente dominados. A notícia ruim? Ficamos presos ao universo trivial, enfadados pela falta de estímulos, acondicionados a uma visão limitada do que nos cerca. A notícia boa? Isso tudo tem cura: os livros e os videogamespodem ser ferramentas para nos libertar se utilizadas com sabedoria. Mas os bons e velhoslivros, ah… esses sim são a pura libertação.

Quer uma dica? Olha só esse infográfico aí embaixo. O mais difícil é saber por onde começar!

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Digo que é comum encontrar pessoas preocupadas com o que ainda não puderam fazer na vida: não ter um emprego melhor, o último celular, a roupa da moda, o carro do ano, o último videogame, sair à noite, viajar; seja lá o que for. Bom, a minha maior preocupação é o que ainda não pude ler na vida, ao mesmo tempo que fico feliz em saber quantos livros bons ainda me esperam. Eu também não tenho tempo… para ficar aborrecido com o resto.
Os videogames e os livros sempre foram a minha forma de escapismo, e sempre serão. Quando aliados com sabedoria, você nunca estará sozinho, esmorecido e ultrapassado —retrogamer sim, retrógrado não! Se na vida você passou mais tempo tentando passar para a próxima fase ou para o próxima página: parabéns, há grandes chances de você ser uma pessoa muito mais interessante.
Eu vivi várias vidas. E você?
Autor do texto: Sir Kao
Fonte: Retro Players

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Postando essa matéria que li a algum tempo no site RetroPlayers que achei bem legal e concordo bastante com o texto escrito por Sir Kao, o dono do antigo blog Retro Fantasy que era fantástico.


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Pior que me identifiquei muito com o texto.
Embora não tenha tido experiência com RPGs de mesa, tudo o que ele citou de uma infância e adolescência, na forma como ocorria, sendo considerado não muito habitual na época pelos familiares e demais pessoas com mais idade, também se fazia um pouco presente para mim em alguns momentos.

Os videogames devem muito aos livros; eles podem complementá-los, mas jamais vão substituí-los.


Também penso assim. Por mais que tenhamos avançado e muito nos RPGs com histórias belíssimas e enredo farto, o elemento livro ainda não tem, e acho que dificilmente terá substitutos.

Como diz um professor brasileiro:

A ideia da boa companhia de um livro é uma das mais agradáveis que nossa cultura inventou. Alguém que não lê terá uma infância, juventude e velhice muito solitária, porque nossa grande companhia são as pessoas, mas nem sempre estas estão disponíveis.


Nas palavras dele, eu como uma pessoa amante dos RPGs, incluiria também eles na frase.
Até esse momento, talvez, sem eles, houveram tempos que sem a jogatina por RPG, teria presenciado mais momentos de solidão do que aconteceram.

Valeu por compartilhar, @MrLinx  Livros e Videogames: o segredo para ter várias vidas 1562904799


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Excelente texto, Sir Kao e o seu Retro Fantasy fazem falta mesmo!

Nossa, eu acho incrível ver como as pessoas que conheço tiveram uma infância e adolescências parecidas com a minha, em como os jogos e a leitura se tornaram meus companheiros por tantos anos. Confesso que quando menor eu tinha o hábito de ler mas revistas de videogames, muitas. O livro que me despertou para o mundo da literatura fantástica, e consecutivamente os demais gêneros, foi Harry Potter! Agradeço a J.K. Rowling por isso, por ter me despertado e aberto uma porta para um novo mundo.

Em casa eu não tinha o incentivo à leitura, eu tive que buscar e me interessar. Mas os jogos, até hoje, continuam do meu lado em momentos difíceis, e eu preciso trabalhar pra ler cada vez mais também pois já me emocionei, ri, e literalmente me transportei aos universos das mentes de vários autores.

Já salvei esse infográfico no meu PC e pretendo segui-lo aos poucos. Obrigado por compartilhar @MrLinx!


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